Tudo preparado. As almofadas aconchegadas, a manta dobrada ao lado, a garrafa de vinho aberta. E um copo, só. Chocolates com recheio de caramelo, o sabor que inventei para a tua língua. A imagem está em pause : minuto 00:00. - Estás pronta? - Sim. Play . Saltamos o genérico. Generalidades não nos seduzem. Encho o copo. Os minutos passam pelo ecrã. Aumento o volume, a expectativa cresce, abafo um grito. Não ouves, mas sei que adivinhas. Sei que sorris. Engulo em seco. Levo o copo aos lábios. O anseio aquece-me o ventre. Aperto o comando. - Para. Fiz rewind sem querer, já não sei onde estou. - Eu espero. Disfarças mal a impaciência, eu pressinto. Tens pressa? Omito a pergunta. Fui eu que escolhi o filme. Disse-te porquê? Julgo que não. Temos por costume evitar lugares-comuns. - Cheguei. Prosseguimos em slow motion , o caramelo derrete-me nos dentes e fecho os olhos por instantes. Terei de mentir depois. Fingir que não perdi nada. E preciso de mais vinho. P...
a história de uma t-shirt, em tempos de quarentena