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A mostrar mensagens de maio, 2020

Com os Azuis

Não me digas que estás outra vez com os azuis! Olha que eu já não aguento! Vinha com boas intenções;  trazia no regaço uma dália de pétalas rubras, mas assim, se estás com os azuis, mais vale que regresse noutro dia. Não estou para sorrisos amarelos.  Talvez volte no crepúsculo, quando estiveres a pender para o anil. Havia poeira no caminho que me trouxe. Ocre como canela ou açafrão. Pareceu-me um bom presságio,  achei que te encontraria hoje com mais condimento. Afinal, lá estás tu, outra vez com os azuis!  Que só sabem a gelo e a sal. Já não sou verde nestas coisas. Devia ter suspeitado, quando me deixaste toda a noite em branco. 

Tantos disparates

Diz que faço muitos. E que digo mais. Às vezes perco o filtro e sai o que me vai na alma. Começo a sentir as palavras a ferverem na garganta e saem de enxurrada, levando tudo à frente. Falo sem pensar ou falo porque pensei demasiado. Há quem afirme que digo coisas com a intenção de chocar as pessoas, e é verdade. Ou que tenho um humor muito negro, e é verdade. Que digo coisas acutilantes que magoam, e também isso é verdade. Às vezes estou tão zangada que preciso que os outros também sintam como dói e, para magoar, poucas coisas servem tão bem como as palavras. Depois, invariavelmente, arrependo-me e, justiça seja feita, peço desculpa. Quando peço desculpa, estou arrependida, nunca finjo um pedido de desculpas. Sou dura com os disparates dos outros, mas sou muito mais dura com os meus próprios. Também há aqueles disparates que digo e que faço só porque estou feliz e me apetece, só porque rir é bom e não interessa o que as pessoas enfadonhas pensam. Que fazem a família abanar a ca

Serás sempre uma promessa

Este é todo para ti, meu querido. Reclamaste, com toda a razão e propriedade. Esse género de reclamação costuma vir mais dela do que de ti. Se fosse ela a reclamar eu encolhia os ombros, pode viver 100 anos que não se livra daquela síndrome de filha única que foi durante apenas 3 anos!   Ao contrário dela, tu sempre partilhaste os afetos e a atenção da mãe. Temos de lhe dar um desconto, não é nada fácil para uma criança habituada a ser a estrela da companhia aprender a partilhar o palco com um irmão. Eu também passei por isso e também não gostei, mas depois a gente acostuma-se e passa a gostar do rebento mais novo, a tal ponto que achamos que é nossa função tomar conta dele, ensiná-lo, vigiá-lo, dar palpites, fazer de mãe (o que irrita a verdadeira mãe) e mais tarde fazer de sogra (o que às vezes irrita a cunhada). Mas este post não é sobre mim, nem é sobre ela. Este é sobre ti. E já era tempo. A verdade é que estás aqui no quarto ao lado e, tendo em conta que partilhamos a

Ainda, as pessoas de vidro

Às vezes as pessoas de vidro inquebrável também se partem. Não é por terem um defeito (que os têm, claro) é antes uma espécie de imperfeição, uma pequena bolha de ar, que as torna frágeis, suscetíveis a certas vibrações. Às vezes partem-se, desfazem-se em estilhaços com um estrondo, e não faz mal. Outras vezes percorre-as uma fissura fina, aguda, que avança silenciosa, devagar, e também isso não faz mal.  Apenas perdem a translucidez, a leveza, e ficam pesadas, carregadas de infortúnios profundos e opacos. Perdem o brilho e de frias tornam-se geladas. Num ato de autopreservação, fecham-se sobre si mesmas, sob a proteção de um escudo ou de uma mortalha e não deixam ninguém entrar. Oscilam entre apáticas e cruéis. Não têm, nem querem, sorrisos gentis. Não sentem compaixão nem perdão. Cortam, e nem sempre é sem querer, mas mais pela necessidade premente de desafiar a dor. De ver se a dor se distrai delas e vai para outro lugar. Ficam muito quietas tentando conter os

Uma questão de respeito

Então cá estamos nós a dois passinhos de entrar numa nova fase de desconfinamento. Não sei das vossas experiências, mas eu faço parte daquele grupo de pessoas que começou gradualmente a desconfinar, que é como quem diz, regressei ao meu local de trabalho, em dias alternados. Por esse motivo expandiram-se as minhas saídas de casa e, consequentemente o contacto com o mundo cá fora e com as pessoas. Não há dúvida que estão a ser tomadas medidas. É de louvar o esforço que está a ser feito pelos donos / entidades exploradores / patrões/ responsáveis dos estabelecimentos em geral e dos serviços públicos e privados. Não entrei em nenhum estabelecimento cujos funcionários não estivessem de máscara e que não tenham desinfetante disponível. No meu local de trabalho fornecem diariamente máscaras descartáveis, trabalhamos com distância de segurança e foi reforçada a limpeza das instalações. Os acrílicos em balcões de atendimento ao público são já uma realidade em vários sítios, assim com