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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2020

Estamos (sempre) aqui

  Às vezes não é preciso perceber o que entristece uma pessoa. Às vezes, nem o próprio consegue explicar. E às vezes, sim, às vezes, nem sequer há uma razão que justifique. Não é preciso um motivo entendível para alguém se sentir triste, perdido, destituído de sentido que o guie, com as forças no limite e sem vontade de ir procurá-las. Não é preciso alguém para descortinar os motivos, para encontrar soluções, para traçar planos. Às vezes só é preciso empatia. Estar presente, mesmo que em silêncio. Deixar a mão à distância certa para ser agarrada. Às vezes, só um pequeno toque de pele, no momento certo, a assegurar a presença. Às vezes, do outro lado do telemóvel, alguém acorda, lembra-se de nós e diz “Olá, estou aqui. E tu, como estás?” e depois está disponível para ouvir a resposta. Para gastar tempo, para ter tempo. E, às vezes isso chega. Outras vezes não. Às vezes basta dizer “Não estás sozinha. Nunca estás sozinha, eu estou aqui. Puxa pela fita, aperta o nó, eu estou n

A analogia da chiclete

  Há uns anos (muitos), quando eu era mais jovem e, com tal, achava que sabia imensas coisas, na sequência de uma conversa com um amigo, escrevi um post intitulado “A metáfora da pastilha elástica”. Dizia, mais ou menos, assim: Era uma vez uma pessoa (o sexo é irrelevante) que adorava chicletes. Era assim uma adoração tão grande que roçava o vício, pois na realidade já não sabia viver elas. Metia uma chiclete na boca, mastigava, saboreava e quando se fartava deitava fora e passava para outra. A durabilidade de uma pastilha é muito reduzida. Acho mesmo que é um excelente ícone do produto descartável - não chega sequer a ser ingerida, é mascar e deitar fora. Quem gosta de chicletes entende bem o prazer da primeira trinca, aqueles instantes em que a boca se delícia, saboreia. Quando o sabor se desvanece, o que acontece demasiado depressa, torna-se numa coisa insí pi da e pegajosa, pronta a ser deitada fora e, quiçá, substituída. Se obrigados a conservá-la na boca mais do que o tempo

Tatuagem

  “Não te vou mentir. Aí dói bastante” Não mintas, não vale a pena, estou preparada, não me importo. Essas dores eu tolero bastante bem, as que marcam a pele. Pode-se pensar que é coragem ou valentia. Não é, é outra coisa. Enquanto me marcas a pele, no interior, muito mais fundo, grava-se uma história. Tatuaste a minha vida, 2020, ferro e fogo e muito mais. Dei-te quase tudo. Resta saber quanto foi demais. E, no entanto, ainda há tanto de mim para dar. Isso deste-me tu, na marca que me imprimiste sem clemência: a certeza de que esta linha está aberta, é um círculo de pontas paralelas, uma espiral se assim lhe quiseres chamar, infinito em possibilidades. Não há regresso ao que foi antes. Desenhas, à força da minha dor, esta linha fina e perfeita que não se fecha e que me traz de volta aos mesmos destinos, em latitudes diferentes. O mundo não voltará a ser igual. E eu, eu há muito tempo que sou outra. Cerro os dentes, há uma lágrima que escorre pelo canto do olho, enquanto a ti