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Cisnes em Veneza e gaivotas em Espinho


Dizia-se que há cisnes e golfinhos nos canais de Veneza, devido ao decréscimo de poluição. Afinal o poligrafo veio desmentir. Ainda assim, fica a ideia.
Fui caminhar um pouco de manhã, antes de começar o teletrabalho. Está uma manhã de céu limpo, sem névoa e vê-se toda a costa para norte, até aos guindastes do Porto de Leixões. Eu, que até sou moura, fico enternecida a olhar os recortes desta linha de praias que me adotou.
Está maré vaza e as gaivotas, alheias ao que as rodeia, chapinham nas poças, entre as rochas, à procura de pequeno-almoço.
Talvez não haja cisnes em Veneza, mas a realidade mostra-nos como, nalgumas semanas de redução da nossa atividade, o planeta começou a respirar muito melhor. Nós somos obrigados a abrandar e a natureza, que anda por cá há muito mais milhões de anos que nós, ganha lufadas de vida.
Isto dá que pensar. Até para os mais céticos, fica a ideia. Dificilmente um Trump ou um Bolsonaro podem vir argumentar contra esta evidência: nós tratamos muito mal este planeta (que por acaso é o único que temos) e basta apenas ficarmos quietos para ele começar a regenerar-se.
Olhem, eu nem sequer sou uma apaixonada de cisnes ou de golfinhos. E a escolher um animal para ver nadar nos canais de Veneza, preferia que fossem daquelas tartarugas enormes, velhas, com focinho enrugado, como há no cais do Barco dos Beatles no Funchal. A possibilidade de ver as águas assim tão límpidas, que os animaizinhos começassem a chegar em catadupas, qual filme da Walt Disney, comove-me. Como me comoveram hoje as gaivotas e as ondas que não se cansavam de vir enrolar na areia, daqui até Matosinhos.
De todo este drama que vivemos, vamos retirar algumas lições. Que uma possa ser a forma como temos de cuidar do nosso planeta. Fica a ideia.

Comentários

  1. E É isso! Vai ter de sobrar algo de positivo de tudo isto...
    (esta orla marítima, em dias assim seduz qualquer 'mouro':))

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