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Desenhei-te

Desenhei-te
com uma ponta de grafite quase gasta.
Deslizei-a pelo papel granulado
como quem passa, leve, 
os dedos pelo teu corpo,
sentindo cada músculo ficar tenso sob a pele.
Desenhei-te de memória, 
sem precisar de olhar-te uma única vez.
O realce de cada sombra nas tuas linhas
veio do brilho dos meus olhos, nada mais. 
Desenhei-te os lábios
com traços leves, saboreando devagar. 
Deixei escorregar a grafite como uma carícia pela curva do ombro. 
Tracei-te o contorno da coxa, tremi na ondulação das costelas. 
Desenhei-te como quem beija,
de olhos fechados, 
e, com as sensações a pulsarem na garganta,
senti o sabor salgado da pele brilhante. 
Se me debruçar sobre a folha sinto-te o cheiro. 
Foi o odor que me transpirou das mãos. 

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