Foram 3 tristes dias, daqueles em
que o corpo quebra por inteiro e esquece onde se vai buscar a força que o
mantém na vertical. Foram 3 dias de lágrimas sempre prontas para vir bailar nas
pestanas.
Ontem à noite, antes de meter os pezinhos
na cama disse para mim própria “Já chega!” (foi só a mim que um camelo qualquer
arruinou um pouco o gosto com que se pronunciava este imperativo?). De facto,
não foi para mim própria que o disse, foi em voz alta pois, como a generalidade
das pessoas acredita, o cérebro assimila melhor o que os ouvidos conseguem ouvir
e daí a necessidade que alguns têm (eu incluída) de falar sozinhos enquanto pensam.
Ora bem, quando eu decidi começar
a escrever aqui umas coisas fi-lo sob o compromisso de que serviria para manter
o ânimo em alta. Dizia eu, no primeiro post que “é imperativo que cada
um de nós faça o possível” e “se começarmos a deitar as lágrimas cá para fora
em torrentes, a disparatar ou a amuar, vai correr mal.” Se há coisa que eu não
gosto é de faltar a compromissos.
Acontece que sou ótima a tomar
decisões e até em comunicá-las, mas às vezes menos boa em conseguir mantê-las.
Sobretudo no que respeita a humores que, no meu caso, sobem e descem ao ritmo
de um iô-iô. Como era esperado, e apesar das expectativas criadas (para mim
própria, obviamente) ao declarar que estou um bocado mais velha (verdade), mais
ponderada (ahahah) e a dizer menos disparates (ahahahahahahaha), as coisas não
correm de forma linear e os meus dias, com certeza como os de tanta gente, vão
oscilando entre cor-de-rosa e cinzentos, tantas vezes em fração de segundos.
A minha personalidade hipersensível,
tipo flor de estufa, arrelia-se, melindra-se ou entristece-se com muita
facilidade e, coisa que eu pensei que por esta idade já estivesse domesticada,
continua a ser muito permeável a fatores externos e (pasme-se!) às ações dos
outros. Seja feita justiça, com as palavras ou gestos certos, ou às vezes
apenas com um pensamento, também chega à alegria e ao êxtase num pulinho.
O que é certo é que, se me posso
permitir um dia ou dois de tristeza e melancolia, quando o caso chega ao
terceiro dia, começa a deixar-me preocupada e a gerar no meu interior alguma agitação
parecida com raiva. Primeiro, e como as crianças, aponto o dedo à minha volta e
tento encontrar culpados para o meu fraco estado de humor. Nesta fase tudo
serve: o sol porque está forte, as nuvens porque tapam o sol, as pessoas porque
falam, as pessoas porque estão caladas, as pedras porque existem, a comida
porque me enjoa, a comida porque tenho fome, o exercício porque me cansa, a
falta de exercício porque me deprime, enfim, rigorosamente qualquer coisa
serve. Passada a primeira fase, começo a ter alguma noção de que estou a ser
absurda e direciono a raiva para mim própria: porque me atrasei, porque comi
bolo no fim-de-semana e agora tenho barriga, porque tive que reduzir a carga a
meio do treino, porque não tenho paciência para fazer o puzzle, porque cedi ao
desânimo e não devia, porque digo coisas que não devo, porque sou impaciente, porque
insisto em cometer os mesmos erros,
porque, porque, porque… esta segunda fase é boa pois permite-me dar tareias monumentais
a mim própria, sem dó nem piedade (sou muito pouco piedosa no que toca a bater
na minha pessoa) o que me leva a uma mistura de choro, imprecações e ranger de
dentes que me deixa em frangalhos. E isso é bom porquê? Porque é nesta altura
que, com o olhar duro e critico que me caracteriza, olho para mim própria e
digo “mas tu estás parva, ou quê? Deixa-te já de merdas e de autocomiseração,
que se há coisa que eu não tenho paciência é para gente que passa a vida a
lamentar-se.”
Dito isto, considero que já fui bastante
condescendente com a minha pessoa - só me dou um desconto porque esta
pandemia baralha-nos um bocado as perspetivas e damos por nós a fazer coisas
que de outra forma (provavelmente) não faríamos – e 3 dias é o limite para
andar com mariquices.
Já chega, menina, faz-te à vida!
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