Racismo
– atitude hostil ou discriminatória em relação a um grupo de pessoas com
características diferentes, nomeadamente etnia, religião, cultura, etc.
Preconizar a separação de um grupo, dentro de um país, com base na raça
(segregação racial).
O racismo configura
um crime conforme o código penal português, sendo uma circunstância
de agravo importante como móbil de um crime.
Partilhada a definição e informado que os atos racistas são criminosos, penso que está clarificado o ponto de que racismo NÃO É uma opinião. Agora que esclarecemos
isso, devemos também esclarecer que, não sendo uma opinião não deve ser sujeito
a sondagens de opinião pública. Assim como não sondamos se as pessoas
concordam ou não com atos de violação, homicídio, pedofilia, não porque não se
encontrassem alguns simpatizantes das ideias, mas por se tratarem de atos
criminosos tanto mais graves porque cometidos contra pessoas. Eu acredito
plenamente na liberdade de expressão e no direito que qualquer pessoa ou a comunicação social têm de exprimir ou repetir
assuntos, opiniões e posições, mesmo que vão contra aquilo que eu defendo, que
firam a minha sensibilidade, que me indignem ou que me choquem. Da mesma forma
que eventualmente algumas das minhas posições podem ferir, melindrar, aborrecer
ou tocar a sensibilidade de alguém. Mas não estamos a falar de liberdade de expressão
e/ou de opinião. Estamos a falar de um deputado eleito democraticamente, no parlamento que nos
representa A TODOS, propor que se dê um tratamento
diferente, no caso concreto, que se prive de certo grau de liberdade, um
grupo específico de pessoas, com base na sua etnia.
Se
esta proposta fosse feita por um grupo de imbecis, à volta da mesa do café, era
muito mau. Se o mesmo grupo de imbecis tentasse levar a cabo ações nesse
sentido, era um crime. Desta maneira, sendo uma questão levada por um deputado à
Assembleia da Républica, é assustador. Só o facto de achar que pode, e fazê-lo,
deixa-me aterrada. Estamos a falar de um órgão de soberania nacional, casa da
democracia onde ainda há poucos dias celebrámos a Liberdade (curiosamente o
mesmo deputado não queria estar lá nesse dia. Eu gostava que ele
não estivesse em dia nenhum). É verdade que, da Esquerda à Direita, as vozes
ergueram-se condenatórias, o que nos deixa respirar de alívio por perceber que
ao fim e ao cabo, somos representados por gente decente que põe de lado
convicções partidárias quando o assunto mexe com direitos fundamentais das pessoas.
Ainda
assim, fez-me pensar muito. Em outubro de 1939, os
alemães estabeleceram o primeiro gueto na Polónia, com o propósito de isolar os
judeus da restante população. Porquê? Porque eram judeus.
Obviamente
(aguentem os cavalos) não estou a tentar fazer comparações, para além desta: um
racista é um racista em qualquer tempo e em qualquer lugar.
E um
racista com lugar no hemiciclo mais importante do país, um racista a quem é
dado tempo de antena e oportunidade para fazer este tipo de propostas e propaganda, é
perigoso.
Em
alturas em que reina o medo, a instabilidade, a incerteza quanto ao futuro, em
que muitos passam por situações económicas complicadíssimas, a economia quebra,
a pobreza, a fome e o desemprego aumentam, é muito fácil sucumbir à tentação de
culpar alguém. É em circunstâncias destas, quando as pessoas se sentem cansadas
e tantas vezes sem rumo, que se tornam mais fáceis de manipular e surgem os oportunistas. E é exatamente
isso que acho preocupante: é evidente que André Ventura (vamos chamar os bois
pelos nomes) não pensava que a sua ignóbil proposta fosse aceite ou sequer bem acolhida no Parlamento.
Mas contava certamente com toda esta celeuma que a sua provocação despoletou para mandar pelos
olhos das pessoas adentro as suas convicções e atirar por aí umas sementes de
xenofobia e racismo a ver se germinam. Houve cantos por onde se murmurou "olha que ele é capaz de ter alguma razão". E isto sou eu, com o otimismo que me caracteriza, ignorando os 70% de ouvintes a dizer "sim" na tal sondagem.
E é
por isso que não devemos ficar calados e aceitar este episódio como um percalço
infeliz e devidamente contido por quem dá voz ao país. É que a voz do país
somos nós todos e é bom que consigamos gritar bem alto que NÃO TOLERAMOS RACISMO! RACISMO NÃO É UMA OPINIÃO!
Dito
isto, faço uma vénia até ao chão, ao nosso querido Ricardo Quaresma: de todas
as trivelas que nos deste, nenhuma valeu mais do que esta. OBRIGADA.
Muito bem! Não há espaço para tanto disparate!
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