No parque infantil o baloiço
oscila, vazio, ao sabor do vento matinal. As pessoas passam e olham sem ver,
sem reparar no silêncio provocado pela ausência das crianças. Não há vozes, nem
gritos. Não há choros, nem gargalhadas, nem birras. Não se ouvem disputas pelo
mesmo brinquedo, não se ouvem adultos a ralhar, entre embaraçados e
impacientes. Não há mães apressadas a dizer que têm de ir fazer o almoço, nem
pais distraídos a olhar para o visor do telemóvel. Um parque infantil vazio é
uma visão triste. Não há chapéus nem galochas, nem cordões desapertados, nem joelhos
esfolados. Melhor seria levar também os baloiços, para que não ficassem a
oscilar solitários.
Assim como eu, a oscilar
sobre mim própria, sem sair do lugar. Sou um baloiço sozinho no ar, sem tocar o
chão e sem levantar voo, suspensa entre momentos. Não paro, mas também não vou.
O meu ânimo é um pêndulo, movendo-se num ritmo de indecisão constante. Como um
baloiço, balanço. Como um baloiço sou triste quando balanço sozinha. Como o
parque infantil, estou fechada, aguardando.
Também eu fui criança, num
baloiço, um dia. Estiquei as pernas ao vento e puxei-as, resoluta, para trás,
para me fazer andar mais depressa, num tempo em que o prazer se sobrepunha ao
medo.
Agora, não sei se é medo que
tenho, se é outra coisa qualquer. Sei que não sei decidir e por isso, num ritmo
que nunca para, baloiço no mesmo lugar.
Estou cansada. Não sei se é a gravidade
da terra ou a gravidade dos pensamentos. Não sei se sou eu que empurro, se sou
eu que travo.
Não consigo decidir e,
enquanto não decido, oscilo. E enquanto oscilo, não deixo que ninguém se
aproxime.
Como um baloiço, estou sozinha
no meu parque. Só que não é infantil.
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