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fotos instagram.com/the.tiagolourenco
Sou um movimento
a abrandar.
Um pêndulo em
fim de embalo,
um baloiço sem
criança,
uma pausa na
esperança.
Aguardo,
sem saber o quê.
Paro.
Escuto o silêncio.
O ar pastoso
entra-me pelas narinas
e cola-me a língua
ao céu da boca.
Fecho os olhos.
Dobro os joelhos,
baixo-me
lentamente até sentir o chão nas palmas das mãos.
Tudo em redor
se encerra
e estou só.
O silencio
esmaga-me a face contra o pavimento
até doer
e irromper de
mim um murmúrio,
um gemido
abafado,
magoado.
Abro os braços
e fico.
Quase não
respiro,
nem suspiro.
Se me viro sei
que me firo
e não quero.
Paro.
O ar pesa
contra as costelas.
Suplanta-me,
aperta-me a garganta.
Quase não
respiro nem suspiro.
Apenas o vento,
que condoído do
meu tormento
sopra uma
rajada
violenta e
fria.
Como uma
estalada,
bem merecida e
bem dada.
No ar
rarefeito,
o corpo
estremece ansioso.
Treme e uma
chama ameaça acender-se.
Os dentes
rangem num derradeiro esforço,
os lábios
sequiosos procuram golfadas de nada
e quedo-me com
a boca entreaberta,
um fio de
saliva a escorrer e um gosto amargo.
Enterro a cara
no silêncio áspero do chão.
E paro, finalmente.
Cedo à dormência,
acobardada.
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Is it? Montei a arvore. O presépio. Fiz arroz doce. Acendi as luzinhas e inspirei fundo o ar frio a ver se dezembro entrava. Não sei o que se passa com o tempo. Ou se é com o tempo que se passa. Faltam 20 dias para o Natal e eu esqueci-me da playlist pirosa e da coroa do advento. As figuras do presépio parecem-me só figuras. Comi uma rabanada que me enjoou ao ponto de prometer não comer nenhuma mais. Se calhar não é o tempo. Se calhar sou eu, que ando perdida por setembro de 2020, quando os pores do sol eram intermináveis e cria que no ano seguinte já tudo estaria bem. O ano passado aguentei o Natal esquisito, a ausência de abraços, de colos, de mesas barulhentas, de jantares com amigos, de famílias sem medos. O virar do ano tranquilo, resguardado, sem fogos de artificio e outras companhias, pareceu-me um bom augúrio para o que viria em 2021. Mas este ano está difícil. Não me saem da cabeça as palavras à mesa do dia 1 “tenho a sensação que 2020 vai ser um ano extraordin...
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