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Sou um movimento
a abrandar.
Um pêndulo em
fim de embalo,
um baloiço sem
criança,
uma pausa na
esperança.
Aguardo,
sem saber o quê.
Paro.
Escuto o silêncio.
O ar pastoso
entra-me pelas narinas
e cola-me a língua
ao céu da boca.
Fecho os olhos.
Dobro os joelhos,
baixo-me
lentamente até sentir o chão nas palmas das mãos.
Tudo em redor
se encerra
e estou só.
O silencio
esmaga-me a face contra o pavimento
até doer
e irromper de
mim um murmúrio,
um gemido
abafado,
magoado.
Abro os braços
e fico.
Quase não
respiro,
nem suspiro.
Se me viro sei
que me firo
e não quero.
Paro.
O ar pesa
contra as costelas.
Suplanta-me,
aperta-me a garganta.
Quase não
respiro nem suspiro.
Apenas o vento,
que condoído do
meu tormento
sopra uma
rajada
violenta e
fria.
Como uma
estalada,
bem merecida e
bem dada.
No ar
rarefeito,
o corpo
estremece ansioso.
Treme e uma
chama ameaça acender-se.
Os dentes
rangem num derradeiro esforço,
os lábios
sequiosos procuram golfadas de nada
e quedo-me com
a boca entreaberta,
um fio de
saliva a escorrer e um gosto amargo.
Enterro a cara
no silêncio áspero do chão.
E paro, finalmente.
Cedo à dormência,
acobardada.
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Vais ter de mudar de casa, lamento, já não cabes aqui. Empacotei as tuas coisas. Quero que saias já. Fiz a partilha sozinha porque a casa é minha. Levas as noites quentes, o meu sorriso e a televisão. Ah, e levas também os orgasmos. Metade eram falsos. Com as madrugadas fico eu. São as horas em que escrevo melhor. Também guardo o cobertor e o gato. Não precisas de confortos. A culpa, deitei fora. Não tapava nem frinchas. Pelo meio das arrumações, encontrei um bilhete, pingado de café, “compra-me tampões. SEM APLICADOR!”, com um coração no canto, a piscar o olho. Rio-me. Sobra de nós uma hemorragia inútil. Abro uma garrafa de tinto e sento-me, no chão da cozinha, a brindar aos infortúnios. Tens à porta a mala e dois caixotes. Levas o bengaleiro, detesto os casacos pendurados na entrada. E os amigos, com quais ficas? Que sejam eles a escolher. Por mim, dois ou três bastam. Não toques à campainha. Vê lá se, ao menos desta vez, trazes a chave contigo. Deitei a tua escova de
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