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Sou um movimento
a abrandar.
Um pêndulo em
fim de embalo,
um baloiço sem
criança,
uma pausa na
esperança.
Aguardo,
sem saber o quê.
Paro.
Escuto o silêncio.
O ar pastoso
entra-me pelas narinas
e cola-me a língua
ao céu da boca.
Fecho os olhos.
Dobro os joelhos,
baixo-me
lentamente até sentir o chão nas palmas das mãos.
Tudo em redor
se encerra
e estou só.
O silencio
esmaga-me a face contra o pavimento
até doer
e irromper de
mim um murmúrio,
um gemido
abafado,
magoado.
Abro os braços
e fico.
Quase não
respiro,
nem suspiro.
Se me viro sei
que me firo
e não quero.
Paro.
O ar pesa
contra as costelas.
Suplanta-me,
aperta-me a garganta.
Quase não
respiro nem suspiro.
Apenas o vento,
que condoído do
meu tormento
sopra uma
rajada
violenta e
fria.
Como uma
estalada,
bem merecida e
bem dada.
No ar
rarefeito,
o corpo
estremece ansioso.
Treme e uma
chama ameaça acender-se.
Os dentes
rangem num derradeiro esforço,
os lábios
sequiosos procuram golfadas de nada
e quedo-me com
a boca entreaberta,
um fio de
saliva a escorrer e um gosto amargo.
Enterro a cara
no silêncio áspero do chão.
E paro, finalmente.
Cedo à dormência,
acobardada.
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Pedes desculpa, mais uma vez. A súplica vibra-me nos tímpanos e eu esqueço. Escancaro os braços, a vida. Esfrego os hematomas e ergo, para ti, as sombras do olhar. Regresso. Entro a porta, esquecendo-me porque saí. Puxo a miúda, rabugenta, pelo pulso. Faltam-me dois molares. Digo que uma cárie os levou. Ela minga quando te aproximas. Com os olhos baços, limpa o ranho à blusa. - Desculpa. – Dizes-lhe também a ela. Faz-se pequena, duvida. Na manhã seguinte, arranco-a da cama, cedo demais. Enfio-lhe o leite pela goela, ansiando que não faça barulho, para não te acordar. Sento-a no colo e pesa-me o embaraço. Beijo-lhe o cabelo com lábios amachucados. Deixo-a na cresce, sem tirar os óculos. Raspo uma nódoa seca da camisola. O recado da educadora flutua através de mim. Volto. Numa inspiração perversa, chamo a isto lar. Faço café. Escaldo a garganta com um gole amargo. Estremeço ao sentir a tua mão na cintura. Cheiras a dia lavado. - Vai ser diferente, agora. Quero c...
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