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1ª Alucinação – Pausa


fotos instagram.com/the.tiagolourenco


Sou um movimento a abrandar.
Um pêndulo em fim de embalo,
um baloiço sem criança,
uma pausa na esperança.
Aguardo,
sem saber o quê.
Paro.
Escuto o silêncio.
O ar pastoso entra-me pelas narinas
e cola-me a língua ao céu da boca.
Fecho os olhos.
Dobro os joelhos,
baixo-me lentamente até sentir o chão nas palmas das mãos.
Tudo em redor se encerra
e estou só.
O silencio esmaga-me a face contra o pavimento
até doer
e irromper de mim um murmúrio,
um gemido abafado,
magoado.
Abro os braços e fico.
Quase não respiro,
nem suspiro.
Se me viro sei que me firo
e não quero.
Paro.
O ar pesa contra as costelas.
Suplanta-me,
aperta-me a garganta.
Quase não respiro nem suspiro.
Apenas o vento,
que condoído do meu tormento
sopra uma rajada
violenta e fria.
Como uma estalada,
bem merecida e bem dada.
No ar rarefeito,
o corpo estremece ansioso.
Treme e uma chama ameaça acender-se.
Os dentes rangem num derradeiro esforço,
os lábios sequiosos procuram golfadas de nada
e quedo-me com a boca entreaberta,
um fio de saliva a escorrer e um gosto amargo.
Enterro a cara no silêncio áspero do chão.
E paro, finalmente.
Cedo à dormência,
acobardada.




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