Com a cara colada ao chão,
oiço água a pingar.
Sinto-a vibrar nas profundezas.
Vai correndo, como corre.
Para onde?
Não sei, mas também vou.
Dissolvo-me e acompanho-a.
Sigo livremente
escorrendo uma existência.
A terra retém pedaços do que eu sou.
Fragmentos absorvidos na passagem.
Misturam-se, decompõem-se,
até um inseto os devorar,
algo os aniquilar.
E eu serei cada vez menos, ainda
bem,
à medida que vou escorrendo pela
vida,
num rio sem leito,
num rio sem margens,
num rio sem curso.
Terá foz?
Ou somos nós?
Ninguém corre para sempre, indefinidamente.
Ou sim? De mim? Assim?
Não sei e não importa,
porque o rio que me comporta, de
mim fica com pedaços.
Absorve-me.
Um dia nada restará para correr.
Será um rio seco no seu leito.
Desfeito.
Grande feito.
E uma história para contar.
De encantar?
Que piada! E deveras engraçada.
Já não corres?
Rio que morres?
Não oiço a água pingar.
Ou talvez,
noutro lugar
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