Estou cansada desse corpo sem vontade,
que escorreu pelo rio, abandonado.
Liberto-me e evaporo.
Sou partículas de vapor que se perdem,
libertas da dor,
cada uma para seu lado.
fragmentos, num céu cinzento,
como de humidade que se cola à pele.
A pele do corpo?
Daquele que abandonei?
Que desconsiderei?
Não o quero.
Não me serve.
Ele que me trai,
que me quer impor vontades quando já não
tenho nenhuma.
Sou um espectro que evapora,
que se divide pelo espaço.
Partículas.
Sem peso e sem força.
Sem gravidade, flutuo.
Liberdade.
Já nada me prende ao chão.
O corpo ficou para trás.
Era uma farsa, uma sátira.
Uma comédia!
Mas que bem representada.
Sou fragmentos,
que riem à gargalhada.
Sim! É de ti que me rio corpo inútil!
Que pensavas?
Que vencias? Que lutavas?
Quanta ingenuidade!
Mereces, por isso, a maldade.
Que falta de consideração,
quereres sentir sem razão!
Agora, vê bem, caíste.
Estás estatelado no chão.
Esperavas de mim compai xão?
Ocorreu-te que eu não me ia libertar?
Soltei-me, evaporei.
Olho-te com escárnio, corpo que abandonei.
Eras fraco, não prestavas.
Ainda um dia me engana vas.
Vê bem do que me livrei.
Sou vapor,
ao abandono, sem dor.
Sou apenas água e luz,
num movimento sem prisão,
que algum contorno reduz a nada,
ou à imensidão
da ilusão.
Sem limites, sem fronteiras,
abandono o corpo estendido no chão.
Solidão.
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