Saudades tuas m!
Se ainda existisses ias-me ouvir e íamo-nos rir de tudo
isto. Para onde levaste o teu sarcasmo? Se tivesses sabido como me fez falta.
“Há uma linha muito ténue que separa a criatividade da
loucura”.
De que lado da linha ando eu? Há quanto tempo a criatividade
me abandonou?
Como precisava de ti para vencer estes dias. Tu despertavas
o melhor pior de mim. Contigo eu era boa a ser má.
Quem me dera ter-te dito. Quem me dera que cá estivesses.
Se eu estivesse a ser parva também me dizias. Na cara, sem
contemplações.
“Basta de autocomiseração. Respondeu ele 14 horas depois” - foi
um sms teu em resposta a choraminguices minhas. Demorei meses a perceber que
durante aquelas horas, catorze, que me fizeste esperar, lutavas contra a
raiva que contiveste antes de responder (ou então não percebi nada).
Respondeste-me com uma crueza, a transpirar desprezo, que me atingiu em cheio e
acabou com as lamurias no mesmo instante. Eras assim, tu: o teu pior fazia o melhor
em mim.
Eras melhor antes de morreres. As pessoas falam dos mortos
como se tivessem sido quase santos e ambos sabemos que não foste nada disso.
Tinhas graça, tinhas dias. E eras inteligente. Mas não eras nenhum fenómeno. E
a prova de que não eras, é que morreste. Se fosses assim tão bom, ainda cá
estavas.
Foi um erro de cálculo (o teu e o meu), achava que ainda
tínhamos tempo.
Fiquei tão zangada contigo. Nem sequer me deste tempo de
gritar. Foi de propósito? Deste o salto no vazio que em ti parecia sempre
eminente. E eu com saudades tuas, m!
Deixei-te ir muito antes de nos teres deixado. Vim-me
embora, virei-te costas e nunca olhei para trás. Não até ao dia em que um
telefonema me deu a notícia que te congelou para sempre em mim. Eu sabia que
não ias acabar bem. Havia em ti esse não-sei-quê de trágico, uma tristeza
cavada tão fundo que quase te esquecias que existia. E que trabalho tinhas em escondê-la!
Foram tão poucas as vezes que toquei lá, que cheguei perto. Lembro-me do dia em
que te entristeci, em que te magoei. Foi sem querer (foi o Dumbo, lembras-te?) e ainda assim dói-me como a história da menina dos fósforos. Ou quando me contaste a
história dos teus fósforos. A mim, que não acreditava no amor. Aliás, juntos
também fomos bons a odiar os que amavam e a desprezar os infelizes que, nessa
altura triste, me amaram a mim. Amaste-me tu? Eu certamente amei-te, nesse
desamor que cultivámos.
Um dia apaixonei-me. Acreditei no amor feliz, troquei
sorrisos, mensagens, musicas e postais e deixei-te, sem nunca olhar para trás.
Não cheguei a dizer-te que, ao longo dos anos, pensei sempre em ti. Pensaste em
mim? E agora só restam saudades.
Sabes uma coisa m? Sem ti deixei de ser boa quando sou má.
Sem ti, quando sou má, sou apenas má.
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