Tenho a maresia no coração e a areia na pele. Tenho a
certeza das ondas a rebentar-me no peito.
Sou da praia vazia, sem gritos de crianças e pregões de
gelados. Sou do areal imenso e deserto, solitário, aberto ao vento. Sou das
rochas com limos a escorregar debaixo dos passos.
Sou do mar forte e frio que dói nos ouvidos e arde nos
lábios secos. E sou do mar plácido, azul, transparente de promessas, que embala
o sal que trago nos olhos.
Sou do mar cinzento, com vagas altas a desfazerem-se em
espuma. Sou do mar prateado, ponteado a diamantes solares que iludem as
deceções. Sou do mar verde das algas que se entrelaçam nas pernas e devolvem ao
areal as conchas que cortam os pés.
Sou da areia molhada que se cola à pele e da areia seca que,
quando encosto o ouvido, traz o tranquilo murmúrio da saudade.
Sou da beira-mar. Volúvel, sem contornos, sem limites, sem
chão firme.
Cada onda a sulcar fundo a areia, nesse ritmo infalível, a mover
os alicerces e, sem fazer promessas vãs, a regressar em cadências de sete a
sete.
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