O telemóvel vibra com a entrada de uma mensagem. Desliza o dedo pelo ecrã e, atónito, reconhece o remetente. A mão treme, o estômago revolve-se e gotas de suor perlam-lhe a testa. Abre a boca em busca do ar que lhe falta e uma reação primária incita-o a fugir.
Ao fundo da sala, a porta abre-se e chamam-no. Ergue-se e caminha em direção ao gabinete onde, sentada à secretária, envolta numa luminosidade difusa e pretensamente tranquilizadora, a terapeuta o espera.
Cumprimenta-o com um sorriso e indica-lhe a cadeira à sua frente. Ele não retribui o sorriso. Tem as feições congeladas, a pele é uma barreira contra o mundo exterior. As fibras dos músculos retesaram-se, os órgãos gritam em espasmo e os cabelos da nuca estão eriçados.
Um ligeiro esgar no rosto dela mostra que se apercebeu. Contudo, nada refere e permanece impassível, observando-o.
Durante os segundos que se arrastam ele avalia as vantagens de lhe falar na mensagem. Vê o ponteiro do relógio avançar, lento. Ela está ali para o ajudar. É para isso que lhe paga. Mas, como lhe paga, vê-se no direito de a impedir e remete-se a um silêncio inexorável.
Ela começa a falar. Vê os lábios dela moverem-se, mas não a ouve. Está concentrado em escutar os sons que chegam do passado, trazidos à tona pela mensagem inaudita. O conteúdo desconhecido queima-lhe o bolso e as entranhas. Ondas de pavor ameaçam soltar-se e afoga-lo. Concentra-se em reprimi-las.
Ela diria que as devia libertar. Enfrentar os medos, lidar com as emoções. Talvez seja isso que ela está a dizer. Impaciente olha para o relógio e crispa a mão sobre o bolso das calças.
Finalmente, ela faz um gesto de despedida e ele sai, batendo a porta. Pega no telemóvel e, sem ler, elimina a mensagem. Não voltará à terapia.
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