1.
Aproxima-se dele, bamboleando as ancas, e beija-o com sofreguidão, o desejo a percorre-lhe o corpo. Ultrapassada a surpresa, a mão dele segura-lhe a nuca, enterra os dedos no cabelo cor de mel e corresponde ao beijo, com avidez. As mãos dela espalmadas nas costas dele, a puxarem-no para si. Era um beijo há muito ansiado e ela, cansada de esperar, resolvera ir busca-lo. Agora, vencida a expectativa, nascia dentro de si a estranha vontade de ir embora.
Desenha-lhe os lábios com uma ponta de grafite quase gasta. Leve, como uma caricia a aflorar-lhe o canto da boca. Passa na folha a ponta do dedo médio, suave, a esbater os contornos, com os olhos semicerrados de prazer e um gemido entalado na garganta. Sabe-lhe os traços de cor. As sombras nas feições dele, vêm dos olhos dela, nada mais. Cola a cara ao papel e sente o odor dele, que lhe transpirou das mãos. A respiração acelera, passa devagar a língua pelos dentes e morde o indicador. Deleita-se no instante perfeito, inacabado, sonhado e aperfeiçoado até ao limite do desejo. Da ponta de grafite quase gasta, nasce o beijo que é a sua obra-prima.
2.
3.
Vou roubar-te um beijo, avisa-o, decidida. Ele, de cabeça à
roda, perde o norte, não sabe de que terra é. Ela dá um passo à frente e ele,
para sua própria vergonha, dá um atrás. Nem sabia que a queria tanto, até se
ver encurralado naquela promessa, e agora luta contra a vontade de fugir dali.
Ela percebeu e diverte-se com a perturbação dele. Aproxima-se um pouco mais e,
estendendo o braço, puxa-o pelo cós das calças até os corpos se colarem. Sorri,
de lábios entreabertos, olhando-o através das pestanas e prolonga a espera até
as pernas dele fraquejarem. Só então, passa leve a língua os lábios nos dele. Depois,
sacode o cabelo e afasta-se sem olhar para trás. E ele, parado, perplexo.
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