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A cor das cuecas

 


Com o ano a chegar ao fim (e que ano), há uma tendência para as pessoas fazerem o balanço dos 12 meses que passaram e expressar desejos para os 12 que aí vêm.

Não vou fazer uma coisa nem outra. Primeiro porque nem sei para onde foram os 12 meses de 2020 e foi um ano tão cheio de situações inauditas que, se por um lado parece impossível que os meses se tenham sucedido, por outro é tal a amálgama de situações e sentimentos, frustrações, medos, alegrias, palpitações e outras coisas, a fugir ao meu controlo, que não entendo como couberam nestes 365 dias. Depois, também não vou evocar desejos nem traçar planos para o próximo ano porque, se há coisa que este nos ensinou, é que Deus diverte-se mesmo com o que nós planeamos.

Também não vou comer as passas que detesto e que, obviamente, não têm qualquer utilidade. Não haverá fogo-de-artificio, nem cuecas a estrear com significado na cor. Aliás, acho até que, tendo em conta os agouros que trouxeram as cores da última passagem de ano, deveríamos passar todos o ano sem cuecas.

O que pretendo para este virar de ano é que seja tranquilo. Quentinho, silencioso. E que assim se mantenham os dias e os meses, até voltar o verão e, quiçá, a crença de que ficaremos bem, do corpo e da cabeça e que saberemos ser gente boa depois disto.

Pela minha parte, e apesar de todos os sobressaltos, continuo a acreditar na felicidade, nas pessoas, no amor e na generosidade. Continuo a preferir vinho tinto. Continuo a não ter medo de ir à luta. Continuo a ter o coração ao pé da boca. Continuo a adorar legos e a ter mau feitio, mas bom coração. Saudades, tenho de dançar, de Madrid e de abraços. E da Maria cá em casa. E de me esparramar no sofá dos meus pais.

De resto, continuo rija. Venham mais 12.

Bom Ano meus queridos! 💚

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