Laura permanece sentada no sofá, sem dar conta do tempo a passar. Já não é na mulher morta na praia que pensa. Pensa em Helena. Quando a conheceu, Helena irradiava vivacidade. Tinha olhos de gato que mudavam de cor consoante as emoções. Podiam ser amarelo rancoroso, quase manteiga rançosa, podiam ser brilhantes como pálidas esmeraldas. Tudo em Helena era paixão, era forte, era puro. Plena de convicções e vontades. Laura refletia muitas vezes que gostaria de ser um pouco assim, ter aquela força. Até ver Helena quebrada. Na queda, Helena também foi grandiosa. Partiu-se com estrondo, estilhaços a voar por todo o lado. E foi assim, em cacos, que Laura a encontrou. Foi assim que a apanhou do chão, com o sangue seco no rosto e o lábio inchado, o corpo a tremer, quase nu. A blusa rasgada a denunciar todo o estrago interior. Levou Helena ao hospital e acompanhou-a à esquadra. Sentou-se com ela à beira-mar e pegou-lhe na mão. As ondas recolhiam, enrolavam e espraiavam aos seus pés n...
a história de uma t-shirt, em tempos de quarentena