É muito cedo. Os candeeiros da rua ainda estão acesos e o edifício está quase vazio. Apenas um agente, sentado à secretária, ouve a mulher à sua frente, com uma expressão condescendente. Faz rabiscos no bloco quadriculado, enquanto a pressão nas têmporas lhe recorda os excessos da noite anterior. A mulher tem uma equimose abaixo do olho esquerdo e um corte no lábio. A voz é fatigada, vazia de emoções. Apenas o brilho nos olhos de gato, que mudam de tom enquanto ela fala, mostram resquícios de uma força antiga. Na noite anterior, quando no telejornal vira a mulher que apareceu morta na praia, Helena tomou uma decisão. De manhã pensou ligar a Laura e pedir-lhe que a acompanhasse à esquadra, como fizera há alguns anos, mas foi impedida pela vergonha. Retirara a queixa, nessa altura, e deixara de responder às chamadas preocupadas de Laura. Há de ligar-lhe mais tarde, dizer-lhe que desta vez será mais forte. O agente (Victor Alves, é como se chama) parece distraído e Helena não te...
a história de uma t-shirt, em tempos de quarentena