8.15 de uma manhã de sexta feira. Fui treinar cedo e estou sentada, no areal vazio, com um copo de café na mão. Não oiço música porque quero escutar o rumor das ondas. O restolhar quando se fazem espuma. O sussurro no momento que enrolam.
Há vidas melhores, dizem, mas eu não acredito. Eu gosto desta. Eu quero esta. Com todas as possibilidades de evolução e mudança.
Quero esta, mesmo em anos de pandemia, longe dos meus, longe dos amigos, carente de abraços e beijos sem medo.
Quero esta, apesar dos dias em que não foi (não é) fácil. Ou, até mesmo, por causa deles.
Há tanto que podia ser diferente, que podia ter feito de outra forma, ter optado pelo outro caminho, na bifurcação. Mas não. E aqui estou.
Inevitável, como as ondas que rebentam e moldam a beira-mar. Também eu em matizes de azuis, ou verdes, ou cinzentos carregados de chumbo, que tornam os dias pesados de angústia. É também eu na leveza da espuma, que se solta, quase voa, e sonha.
Também eu, sólida mas maleável como a areia molhada.
São 8.38. O café acabou e está na hora de me levantar. Aguarda-me o computador, os papeis, as reuniões online e toda uma série de tarefas que dispensava. Mas, ainda assim.
São 8.40 e, regressando a casa, sem vontade, continuo a acreditar que esta é a vida boa. Que a conquista está ali adiante, ao virar de uma esquina. Que o mar está sempre aqui. Ao fundo da rua. No fundo de mim.
Bom fim de semana.
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