Hoje acordei sem vontade.
Apetecia-me puxar o edredão para cima da cabeça e continuar a dormir na
esperança de tudo isto não passar de um pesadelo.
Estou cinzenta, como o dia. Com o humor frio, como a temperatura lá fora
e cá em casa pois recuso-me a ligar aquecedores e dizer ao inverno que pode
voltar.
No decorrer das horas tenho mergulhado no meu interior a ver se descubro
onde é que se escondeu o otimismo. E é em vão que olho o espelho à procura de
um sorriso.
Passaram 36 dias desde a última vez que vi a minha filha. E os meus pais e o meu irmão. A falta de ilusões diz-me que passarão ainda muitos, muitos mais.
Essa certeza de que a saudade se vai prolongar assim por muito tempo está
a roubar-me o ânimo. Bem sei que cada dia que passa é menos um que falta, mas
neste momento cada vez os dias parecem mais. Cada vez os dados nos dizem que serão
mais e eu não estou a conseguir ver a luzinha lá ao fundo.
Sou uma pessoa de Fé e nos últimos dias abateu-me a tristeza que se
sente na Igreja. Vi o Papa atravessar a Praça de São Pedro com o peso do mundo sobre
os ombros, ouvi a tristeza quebrar a voz do Bispo de Fátima, vi padres que
conheço bem a não encontrar esperança para dizer nas suas reflexões e homilias.
Vi, ouvi e senti vacilar um bocadinho o meu alento. Se eles que são muito mais
santos, eles que têm canal direto para o Todo-poderoso, não encontram as
palavras certas, o sorriso certo, quem sou eu então para o fazer?
É segunda-feira, a última de março, e eu acordei sem vontade. Acordei sem
sorriso, com os olhos baços e o lábio a tremer se me fizerem falar sobre o
assunto.
Hoje não consigo fazer sorrir ninguém, não encontro as palavras certas e
estou a faltar ao propósito que estabeleci aqui.
Hoje estou triste e nota-se.
E não há t-shirt nenhuma no mundo que consiga mudar isso.
Todos temos (até tu!) um dia mais cinzento em que expomos o nosso lado lunar. É difícil, muito difícil mesmo para quem tem mais km a intrometer-se. Mas tu, que dizes sempre "sou forte" (ao ponto do próprio Lourenço se ter convencido que eras a mais forte cá do pedaço), dás a volta e voltas a dar. No limite, treinas duro e ficas refrescada :)
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